Como o mercado derrotou o Estado norte-coreano
Depois da morte de Kim Il Sung, a Coreia do Norte não se abriu — ela simplesmente quebrou. Sem petróleo soviético, sem subsídios chineses e sem uma economia capaz de se sustentar, o regime viu seu sistema de racionamento ruir, sua indústria parar e sua população mergulhar na fome mais grave de sua história. Foi nesse vazio que surgiu algo que o governo jamais planejou: um capitalismo de sobrevivência, criado pela própria população para não morrer esperando ajuda estatal. Camponeses começaram a cultivar lotes privados proibidos, mulheres tomaram a dianteira do comércio urbano e mercados clandestinos se espalharam pelo país inteiro. O Estado fingia controlar; o povo fingia obedecer. A fronteira com a China virou corredor de mercadorias, informação e dinheiro vivo. Subornos se tornaram mais eficazes que qualquer regulamento oficial. E a velha máquina de vigilância — antes absoluta — virou um teatro burocrático sustentado por propinas. O resultado foi uma transformação profunda: norte-coreanos comuns descobriram alternativas ao Estado, perceberam que o mundo lá fora é radicalmente diferente e passaram a confiar mais no mercado do que no partido. Uma nova elite econômica emergiu, os tonju, convivendo com riscos constantes, mas simbolizando uma mudança que o regime não controla mais. A Coreia do Norte de hoje não é a obra de um planejamento estatal, e sim das brechas abertas pelo próprio fracasso do sistema. A estrutura criada por Kim Il Sung ainda existe no topo, mas por baixo dela o país já se moveu. A vida real funciona à margem do Estado — e isso está mudando tudo, lenta e inevitavelmente.


